Na infância, uma escola no bairro
em que a gente morava, terá sempre um lugarzinho privilegiado nas minhas
lembranças. Lá pelo idos de 60 e poucos, quando eu tinha uns 12 anos pra mais,
me lembro, muito bem, da primeira vez que senti algo muito estranho se passando
na minha vida.
Eu era um merdinha, como eram
todos os guris daquela nostálgica época, pois ainda acreditávamos, por tantas
histórias ouvidas, nas bruxas. Vai dizer o leitor que isso é uma grande
besteira, mas entenda que naquele tempo nem os adultos sabiam do mundo, pois
nenhuma informação nos chegava, a TV não era acessível para os mais simples e, nas
casas, até os telefones eram raros. Então só restava ouvir histórias, a maioria
arrepiante, narradas pelos mais velhos. Então era de se supor que a gurizada
era toda palerma e pensar em mulher, assim neste jeito que hoje se gosta, era
algo que nem sequer estava nos planos, se é que estes existiam, coisa que acho
muito difícil.
A Dona Luiza era uma
professorinha do primário que ensinava Desenho. Novinha, vinte e poucos anos e
casada, quando as outras docentes eram velhas e acabadas, teve ela, sem querer
e logo que veio pra escola, o privilégio de despertar a curiosidade, talvez o
desejo, naqueles pamonhas. Para alguns nem tanto, mas para mim foi em exagero.
Desde que ela começou a lecionar,
eu, que sempre sentava nos fundos da sala, passei a ocupar as primeiras
cadeiras, atitude esta que até rendeu um inesperado elogio da diretora pra mim.
Lá ficava, feito um abobado, acompanhando todo e qualquer movimento da Dona
Luiza, principalmente quando ela sentava, pois por baixo da mesa, não que fosse
curto o vestido, dava pra ver, se o dia fosse de sorte, até a sua calcinha, o
que era o ponto máximo daquele inenarrável prazer.
Surgia, nestas proibidas olhadas,
intensas ereções nunca tidas. Era um risco incalculável, pois como se sabe, os
alunos, muitas vezes, são chamados ao quadro negro. Ser pego daquela imoral
maneira certamente seria um sacrilégio escolar, condenado talvez a ir pra sala
da diretora e amargar a vergonha dos pecadores. Por esta e por outras que eu
tentava me distrair, a escutando num momento e, no outro, me concentrando nas
suas coxas. Assim, deste jeito infantil e supostamente esperto, eu reduzia
cinquenta por cento de chances de ser apanhado. Mas, por outro lado, aprendia
metade do que ela ensinava...
Mal acabava a aula da Dona Luiza
era eu o primeiro a ir ao banheiro, onde lá me fechava e tratava de dar vazão
ao que minha imaginação concebia. De lá não saía, mesmo que os outros guris
derrubassem a porta se mijando nas calças. Mas não era só ali naquele pequeno
banheiro da escola que a fertilidade da minha mente atuava. Não havia lugar,
quando eu estava sozinho, em que a minha mão direita não fosse chamada a
trabalhar, sempre pensando em tirar a calcinha da Dona Luiza ou, pelo menos,
olhar pela frestinha do meio das suas pernas.
À noite, quando a minha avó vinha
com aquelas histórias horrendas de bruxas e bois-tatás, eu ficava pensando como
que era aquilo que estava por baixo da calcinha da Dona Luiza. Naquela fase da
minha vida, o bicho mulher se incorporou no meu contexto de vida meio que misturado à existência das bruxas. Sabe-se
lá se a Dona Luiza não seria uma delas me enfeitiçando pra me trancar num
quarto escuro da sua casa.
Porque de uma coisa eu andava bem
desconfiado. Nas últimas vezes em que a Dona Luiza sentava à minha frente,
parecia, ou seria minha mente doentia, que ela estava facilitando as coisas pra
mim. Suas pernas, quando a turma se distraía e eu me lá me concentrava, se
abriam generosamente e, muitas vezes, sua mão, meio que sem propósito, puxava o
vestido pra cima e até, não tenho certeza, que ela sorria de um jeito debochado
quando eu pedia pra ir urgente ao banheiro lá fora.
Sempre soube que as bruxas
tentavam as pessoas. Talvez fizessem as mulheres a mesma coisa.
Por este motivo, estremeci dos
pés a cabeça quando, numa sexta-feira, a Dona Luiza disse aos meus pais que eu
estava atrasado e carecia de umas aulas de reforço na sua matéria. E, disse
mais, que estas aulas seriam dadas na sua casa que ficava pertinho da escola.
Peguei a minha pasta e fui, com o coração na boca e me borrando de medo,
rumando pra casa da Dona Luiza. Ela ao meu lado com o braço sobre o meu ombro,
sabe-se lá, pra evitar que eu escapasse.
Mandou ela que eu botasse o
caderno, o lápis e a régua sobre a mesa da sala. Dona Luiza queria me adiantar
nos triângulos e sentou-se juntinho de mim, assim encostando sua perna na
minha. E me fez desenhar o isósceles, o equilátero e o escaleno, mas eles
teimavam em passar da linha, pois o meu
lápis não se entendia com a régua. Com paciência, me mostrava as diferenças das
regiões côncavas e convexas dos ângulos sem que eu conseguisse desviar os olhos da brecha do seu decote, do dorso
das suas tetas.
Assim como fui, voltei.
Infelizmente são e salvo, sem que a Dona Luiza me escaldasse no seu caldeirão,
sem que a Dona Luiza me lambesse provando se eu estivesse no ponto.
No fim do ano letivo se despediu
ela da turma. Iria se transferir pra outra cidade. Depois de ela ir embora,
nenhum desenho mais eu criei no ano seguinte, pois imaginar o quê com aquele
bando de professoras corocas que sobraram na escola?