Conto de Dom
Muller
O Bairro
Assunção na zona sul de Porto Alegre, aí pelos idos dos anos 70, tinha um bar
na orla de Ipanema chamado Cabaninha dos Santos. Pra lá iam os boêmios e os
amantes que invadiam as madrugadas. Muita festa, muita música lenta, muitos
amores construídos e desconstruídos.
O Araújo, 45 anos, bem colocado na vida,
estava só e afundado numa mesa, pensando em entrar no Guaíba e acabar com a
vida. A desgraça caiu de repente sobre o cara ao descobrir que a bela e amada
esposa se enroscava em outras camas com rapazes mais jovens. O Araújo, quando
soube, só teve coragem de fazer suas malas, beijar as crianças e abandonar o
lar que não era mais doce.
Carminha, uma
graciosa baixinha de 18 anos, conseguiu seu primeiro emprego numa loja de departamentos em Porto Alegre. De família pobre, pensava em ajudar no sustento da família
que vivia em casa alugada na periferia da cidade.
E lá, naquela
loja na Alberto Bins, Carminha, desde cedo, fez sucesso pela
sua desenvoltura entre os balcões.
Era um prédio
enorme de cinco andares e havia muitos gerentes. Pra quem não sabe, gerentes de
lojas eram, são e serão grandes experts na arte de devorar seus recursos
humanos, claro, se estes recursos usarem saias. E a Carminha, como esses
diziam, era o novo galetinho a ser degustado.
Não havia
nenhum deles que, quando a menina passava com seu doce requebrado, que não
“secasse” aquela bundinha. Lourinha de cabelos crespos, carinha infantil, sempre com uma
calça jeans colada, que, sinceramente, não se sabia como havia entrado naquele
corpinho. Apesar de fresquinha, ela não tinha muita experiência nos traquejos
da cama.
Carminha,
passado algum tempo e já familiarizada com o ambiente, ficou amiga demais da deliciosa
Verinha do Crediário. Verinha, 20 anos, predadora experiente, não dava muita
bola para planos de fidelidade. Não podia ver homem dando encima que logo ela
queria dar embaixo. E habitualmente dava suas escapadas com algum gerente, durante
o intervalo do meio-dia às duas horas.
A Carminha,
como sendo de confiança da Verinha, foi sabendo dos detalhes picantes dos casos
da amiga com aquela turma. E a narrativa do que ela fazia e do jeito que cada
um gostava de fazer, foi deixando a Carminha com coceira aonde não devia...
Verinha já
tinha se refestelado com quase todo mundo naquela loja. Dito quase porque um
deles ainda não havia estado entre as pernas da insaciável moreninha.
O Dr. Araújo,
45 anos, o cara triste que dirigia a empresa, não só não havia comido a Verinha
como também não tinha comido ninguém daquela loja. Convicto, ele era, até uma
semana atrás, completamente fiel à esposa Débora, mas a Débora tinha, desde
cedo no casamento, o pedigree de vadia, virtude essa que ele acabou descobrindo.
Coisa essa que todos na loja sabiam.
A Carminha,
ao saber disso pela Verinha, logo se apiedou do Dr. Araújo, pois achava a
traição um pecado que não se perdoa.
E quanto mais
a Verinha falava das suas trepadas, mais a Carminha ficava assanhada e mais
coceira tinha no belo rabinho. E foi sentindo esta coceira no rabo que a mente dela
também se coçou. Afinal, se ela queria dar para alguém naquela empresa, porque
não dar para o cara que não tinha comido ninguém? E vai que ela fosse a mais
boazinha possível e o cara gostasse? Eram
possibilidades e a Carminha então se perguntou: - Porque não?
As festas de
fim de ano se aproximavam e então houve uma comemoração só para os
funcionários. Tradicionalmente faziam a festa numa chácara de propriedade do
Dr. Araújo, lá para os lados de Belém Velho.
Um bom
churrasco entre cervejas geladas e muita alegria. A Carminha bebeu o que podia
e parou só para rever o seu plano.
Eram umas
onze da noite, a turma cantando e bebendo e o Araújo, meio entocado num canto sob uma árvore, é percebido
pela Carminha. Ela examina atentamente o ambiente e sai à francesa com destino
à figueira. O Dr. Araújo a vê chegando mansamente como se fosse uma gata se esgueirando para a caça... Ali de pé e encostados
no tronco, sem mais nem menos, ela fita o Araújo dizendo com os olhos que queria abrir suas pernas
pra ele.
.
Dois anos
depois, a Carminha, vestida divinamente de branco, diz sim novamente ao Araújo,
aos pés do altar da capelinha da chácara.