Aninha recém tinha feito os dezoito anos. Assim, de corpo, parecia, porém se vissem os jeitos graciosos de menina sapeca correndo pelo meio dos parreirais, ninguém daria esta idade. Ela era, decididamente, uma grande criança num corpo surpreendentemente exuberante, mas ela não estava nem aí para esta virtude e desconhecia até mesmo os maliciosos olhares que despertava.
Como toda mulher ariana, Aninha tinha, na íris de seus olhos, uma menina que, persistente, de lá não saiu quando cresceu. Por isso, no dia a dia, a parte mulher de Aninha era facilmente dominada por esta criança que estava lá dentro. Desconhecia a maldade, talvez por morar no interior do interior de uma pequena cidade serrana, lá no meio dos parreirais, sentindo o cheiro de uvas e vinho. Aninha, meio que atrasadinha, estava ainda por concluir o segundo grau, mas na escola já tinha sido rainha quando houve um concurso e, por isso e pela simpatia irradiante, era muitíssimo admirada. E porque não dizer, cobiçada...
Intervalo para reflexão:
Este pecado, a cobiça, é algo bastante inconsequente e deve ser analisado de uma maneira bem critica, pois num dos fragmentos da Bíblia consta que a vítima nunca é tão vítima e sim, muitas vezes, é ela quem desperta a monstro que existe nas pessoas normais, ou seja, não há inocentes na historia. Da cobiça nasce o desejo, do desejo à lascívia e desta, as reações inimagináveis do ser humano.
Então, assim por esse ângulo, seria bastante oportuno que a Aninha tivesse mais modos, que não sentasse, daquele jeito estropiado, mostrando as pernas roliças no banco da escola. Seria apropriado, para que a balzaquiana professora de história não ficasse tão tensa, que a Aninha não ficasse assim, mostrando a calcinha, na classe da frente. E aí, neste último detalhe, é que se entrelaçavam o urdume e a trama...
A Professora Amália, a tal que lhe ensinava as lições de história, estava, há um bom tempo, completamente sem norte devido à paixão desnorteada pela Aninha. E pensando nela de dia e de noite, Amália fantasiava o momento de gozar de tudo que a inocente Aninha poderia lhe dar. Aquela obsessão foi, pouquinho a pouquinho, tomando seu corpo e sua alma, sem que ela pudesse controlar o desejo. E Aninha, a cada aula, só fazia com que aquilo aumentasse e, sem saber da cobiça, ia graciosamente ao quadro negro apagar a lição. E a mestre, molhada e sentada, ficava assistindo o balançar das cadeiras da moça.
O grande problema da obsessão é tornar real aquilo que fantasiamos. Quanto mais distante estivermos de realizar o nosso desejo, mais doentes podemos ficar. Pior é ainda para a obsessão quando algo nos priva da posse do objeto querido. E, pelo menos parece, havia indícios de que isso pudesse estar ocorrendo, pois a nobre docente, acidentalmente, ao pegar o livro da arteira discente, lá achou, entre as folhas da história grega, uma, digamos imoral, camisinha com sabor de morango. Este símbolo do prazer e do pecado lá estava justamente posto nas páginas de Sodoma e Gomorra. E a vontade imediata de Amália, tal qual na história, foi fazer chover fogo e enxofre sobre a imoralidade existente no mundo.
Essa descoberta caiu como uma verdadeira bomba na cabeça desgovernada da professora. Não dormiu ela à noite, não conseguiu trabalhar bem ao dia e, nesse ritmo louco, por vários dias ruminou a desgraçada dor pela, agora não mais imaculada, Aninha. Imaginar que algum homem estivesse desfrutando do corpo daquela meiga tolinha, encheu de ódio o coração da Amália. Não o ódio contra Aninha, mas contra o infame sujeito que a seduziu e, sabe-se lá, quantas indecentes coisas fez com a menina. – E se houvessem ainda outros, Deus meu? Pensou Amália, aflita ao imaginar que houvesse muitos a se aproveitar de Aninha.
Aquela noite foi uma cruel parceira pra Amália, mas foi assim, aos buracos e solavancos, que concluiu que se Aninha não fosse só dela, de mais ninguém seria. E, sem planos e nem critérios, arquitetou a morte da moça. Não interessavam vestígios que ficassem sobre a autoria, pois a ela também reservava a mesma sorte. Mataria sem dó nem piedade a amante impossível e acabaria com a própria vida em nome de Eros.
Amália, então, leva Aninha pra sua casa com o falso intuito de reforçar os ensinamentos de história. A doce gazela, exultante de alegria por receber aquela benesse, vai, sem saber, para o fatal sacrifício.
Na intimidade da casa, Amália, entre conversas animadas e mal dadas lições, embebeda Aninha de vinho e a leva para o quarto. Lá, com o pretexto de uma brincadeira qualquer, amarra Aninha pelos pulsos e pernas e tira as suas vestes, deixando a menina a sua mercê.
Mas, antes do crime a punhal, com a curiosidade peculiar das mulheres, Amália quis saber da camisinha que estava no livro e que isto também lhe levasse ao nome do amante de Aninha. Aninha, inocente que estava naquele contexto, diz, sem malicia, que tinha achado a coisa na rua e que nem sequer sabia para que uso servia. Amália, surpresa com o argumento e sentindo na resposta toda a sinceridade humana, chora amargurada ao lado da cama. Aninha, sem compreender o que se passava, chora também como se fosse uma criança assustada.
Diante das lágrimas da virgem, Amália deita na cama pra lhe consolar. Sentindo que Aninha não opôs reação, Amália se atreve a lhe acariciar levemente e Aninha também a isso consente. A mestre, percebendo que aquilo agrada à menina, intensifica os carinhos e suas mãos resvalam sobre o corpo desnudo de Aninha. Amália, cada vez mais sem controle, beija Aninha no rosto, no pescoço, na boca, nos seios, enfim, percorre avidamente as tenras carnes de Aninha. E ela, sem conter os feromônios, tudo deixa sem reclamar no principio e depois, sem defesas, retribui com prazer.
Passados três anos do fato, Aninha hoje vive e divide os afazeres da cama, da mesa e do lar com Amália, como marido e mulher assumidos. E serão felizes para sempre até que a morte por uma branca lâmina as separe...
Passados três anos do fato, Aninha hoje vive e divide os afazeres da cama, da mesa e do lar com Amália, como marido e mulher assumidos. E serão felizes para sempre até que a morte por uma branca lâmina as separe...
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