O Bar do Seu Pila, na boêmia
Cidade Baixa de Porto Alegre era um daqueles lugares que não tinha nenhuma
estrela nos sites de avaliações, aliás, era até conhecido como um original muquifo,
porém não havia um chope mais gelado do que lá.
E foi neste muquifo do Seu Pila
que a historia da Antônia pintou na mesa e atraiu o silencio de todos.
Quando ela tinha 16, Ademir
vislumbrou pela primeira vez aquela singela mocinha nos bancos da sua igreja.
Mesmo com aquele vestidinho comprido e aquele jeitinho simplório, o pastor,
assim como que por premonição, sentiu que ali na pureza daquele corpinho
poderia encontrar as graças do senhor. E realmente encontrou...
O marido, Ademir, 45 anos, era
pastor de uma igreja evangélica e seguidor dos ensinamentos da Bíblia. É
interessante, pra que se entenda melhor a historia, que o Ademir seguira certa
vez, acidentalmente, um dos quesitos bíblicos que se refere aquele que diz
“crescei e multiplicai-vos”. O pastor era pai de um rapaz adolescente, coisa
que nem a Antônia e nem os fieis desconfiavam. Pior seria se soubessem que o
rapaz era fruto de uma aventura com uma mulher de bordel, da época que o bom
pastor tinha o hábito de frequentar espeluncas.
Chegou um tempo que a mãe do filho
bastardo, apesar de ganhar uma boa mesada pra fazer boca de siri pra sociedade,
achou que já era hora de exigir algo mais daquele pai desnaturado. Ora, se o
Francisco era literalmente um filho da puta e que não sabia quem era o pai,
poderia, pelo menos, gozar da fartura que o pai gozava.
Assim, depois de um complicado
diálogo com a antiga amante, o pastor não viu outro caminho se não aquele de
alojar o bastardo na sua própria casa. Caso contrário, a vadia botava a boca no
trombone. Então o Francisco, já com 17 anos, se integra na família do Ademir.
Mas é bom que se diga que não como filho e sim como um sobrinho do interior de
uns parentes que estavam passando necessidades. Antônia, inocente e de boa fé,
engoliu inteiramente a historia e consentiu com aquilo, pois ficou apiedada com
a situação do rapaz. E reconheçamos aí que os pastores são muito bons de
conversa.
Só que esta parte do plano tinha
sido por enquanto apenas alinhavada. Os acabamentos da obra estavam por vir...
No principio, meio tímido,
Francisco foi se ajeitando ao novo lar e, na natureza de um rapaz, foi
começando a reparar no insinuante corpo da tia, assim como ele chamava a Antônia.
E a tia, mesmo não querendo, foi percebendo o interesse do menino. Francisco
sempre andava a vontade em casa, de calção e sem camisa, e Antônia, por menos
que quisesse, passou a reparar também no corpo do rapaz. As filhas iam pra
escola, o pastor peregrinava pela cidade e Francisco que só estudava no período
noturno, fazia companhia pra Antônia. Viam TV, jogavam cartas e falavam sobre a
vida.
O pastor não contava com os
efeitos colaterais do seu remédio, pois é de domínio popular que aquele cônjuge
que trouxer um terceiro para dentro de casa, estará cometendo um grande erro.
Ademir deu uma só chance para o azar e o tempo estava prestes a promover uma
lambança no sua rotina.
Cabe ainda um intervalo na
historia pra dizer o que já dizia, maliciosamente, certo filosofo: “Dorme um
demônio no meio das pernas de uma mulher recatada que, se desperto, pode
transformá-la na mais devassa das mulheres”.
E quis a vida que este demônio
acordasse faminto no dia em que Francisco, nessas alturas já mais íntimo da tia, confidenciou pra ela que jamais tivera
experiência na cama com uma mulher. Correu nas entranhas de Antônia uma
vertigem tão grande que lhe fez vibrar todo o corpo, como se sentisse ali uma
ameaça de orgasmo. Antônia, depois disso, passou a demorar mais no banho e no
banheiro, pois só em imaginar que poderia desfrutar da virgindade de um homem,
enlouquecia de tesão. A bela mulher do pastor estava subindo pelas paredes...
E numa tarde em que a brisa batia
nostálgica nas cortinas, Antônia se refestelava finalmente com Francisco nos
algodões da cama proibida. Com uma sede que jamais sentira, ela ensinou ao
rapaz até o que não sabia e fez até o que ainda não tinha feito. Exauriram-se
de tanto sexo, acabaram-se de tantas sacanagens...
Apaixonaram-se perdidamente e em
todas as tardes amaram-se durante meses. Até que um dia o pastor, em veneração
ao décimo mandamento que ressalta a cobiça à mulher do próximo, desrespeitou inteiramente
o sexto destes mandamentos que aludia a “não matarás”...
E então, numa tarde chuvosa de
inverno, Antônia e Francisco jaziam inertes sobre os lençóis no quarto. Restava
ao pastor, sentado incrédulo ao pé da cama, com a arma no colo, chorar o sangue
derramado.
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