sábado, 1 de junho de 2019

A HISTORIA DE CARMINHA

Conto de Dom Muller
O Bairro Assunção na zona sul de Porto Alegre, aí pelos idos dos anos 70, tinha um bar na orla de Ipanema chamado Cabaninha dos Santos. Pra lá iam os boêmios e os amantes que invadiam as madrugadas. Muita festa, muita música lenta, muitos amores construídos e desconstruídos. 
O Araújo, 45 anos, bem colocado na vida, estava só e afundado numa mesa, pensando em entrar no Guaíba e acabar com a vida. A desgraça caiu de repente sobre o cara ao descobrir que a bela e amada esposa se enroscava em outras camas com rapazes mais jovens. O Araújo, quando soube, só teve coragem de fazer suas malas, beijar as crianças e abandonar o lar que não era mais doce.

Carminha, uma graciosa baixinha de 18 anos, conseguiu seu primeiro emprego numa loja de departamentos em Porto Alegre. De família pobre, pensava em ajudar no sustento da família que vivia em casa alugada na periferia da cidade.

E lá, naquela loja na Alberto Bins, Carminha, desde cedo, fez sucesso pela sua desenvoltura entre os balcões.

Era um prédio enorme de cinco andares e havia muitos gerentes. Pra quem não sabe, gerentes de lojas eram, são e serão grandes experts na arte de devorar seus recursos humanos, claro, se estes recursos usarem saias. E a Carminha, como esses diziam, era o novo galetinho a ser degustado.

Não havia nenhum deles que, quando a menina passava com seu doce requebrado, que não “secasse” aquela bundinha. Lourinha de cabelos crespos, carinha infantil, sempre com uma calça jeans colada, que, sinceramente, não se sabia como havia entrado naquele corpinho. Apesar de fresquinha, ela não tinha muita experiência nos traquejos da cama.

Carminha, passado algum tempo e já familiarizada com o ambiente, ficou amiga demais da deliciosa Verinha do Crediário. Verinha, 20 anos, predadora experiente, não dava muita bola para planos de fidelidade. Não podia ver homem dando encima que logo ela queria dar embaixo. E habitualmente dava suas escapadas com algum gerente, durante o intervalo do meio-dia às duas horas.

A Carminha, como sendo de confiança da Verinha, foi sabendo dos detalhes picantes dos casos da amiga com aquela turma. E a narrativa do que ela fazia e do jeito que cada um gostava de fazer, foi deixando a Carminha com coceira aonde não devia...

Verinha já tinha se refestelado com quase todo mundo naquela loja. Dito quase porque um deles ainda não havia estado entre as pernas da insaciável moreninha.

O Dr. Araújo, 45 anos, o cara triste que dirigia a empresa, não só não havia comido a Verinha como também não tinha comido ninguém daquela loja. Convicto, ele era, até uma semana atrás, completamente fiel à esposa Débora, mas a Débora tinha, desde cedo no casamento, o pedigree de vadia, virtude essa que ele acabou descobrindo. Coisa essa que todos na loja sabiam.
A Carminha, ao saber disso pela Verinha, logo se apiedou do Dr. Araújo, pois achava a traição um pecado que não se perdoa.

E quanto mais a Verinha falava das suas trepadas, mais a Carminha ficava assanhada e mais coceira tinha no belo rabinho. E foi sentindo esta coceira no rabo que a mente dela também se coçou. Afinal, se ela queria dar para alguém naquela empresa, porque não dar para o cara que não tinha comido ninguém? E vai que ela fosse a mais boazinha possível e o cara gostasse?  Eram possibilidades e a Carminha então se perguntou: - Porque não?

As festas de fim de ano se aproximavam e então houve uma comemoração só para os funcionários. Tradicionalmente faziam a festa numa chácara de propriedade do Dr. Araújo, lá para os lados de Belém Velho.

Um bom churrasco entre cervejas geladas e muita alegria. A Carminha bebeu o que podia e parou só para rever o seu plano.

Eram umas onze da noite, a turma cantando e bebendo e o Araújo, meio entocado num canto sob uma árvore, é percebido pela Carminha. Ela examina atentamente o ambiente e sai à francesa com destino à figueira. O Dr. Araújo a vê chegando mansamente como se fosse uma gata se esgueirando para a caça... Ali de pé e encostados no tronco, sem mais nem menos, ela fita o Araújo dizendo com os olhos que queria abrir suas pernas pra ele.
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Dois anos depois, a Carminha, vestida divinamente de branco, diz sim novamente ao Araújo, aos pés do altar da capelinha da chácara.

sábado, 18 de maio de 2019

PERFUME DE JASMIN

Conto inédito de Dom Muller

Isabela, a Isa, 23 anos, morava sozinha num apartamento de dois quartos na Avenida Bento Gonçalves em Porto Alegre. Apesar de causar frisson aos olhos dos homens, não gostava da fruta. Preferia, desde novinha, o corpinho de jovens do mesmo gênero. No entanto, mesmo tendo possuído umas tantas lindas ninfetas, por nenhuma ainda havia se apaixonado. Isa tinha um incontido desejo de conhecer uma garota sem experiência e, melhor ainda seria, que fosse pura e virgem como uma florzinha intacta no pé.

A curta história de Isa é essa...

Rejane, a Janinha como era conhecida, era uma garota tímida e introvertida. Com dezessete anos, desconhecia, distraidamente, que não havia homem que a visse que não a quisesse. Era, com toda a licença, uma dessas femeazinhas que a gente olhava e mordia a língua sem querer. Entretanto, Janinha não tinha a menor noção de malícia eis que sua criação tinha sido cercada de mimos e até adolescente ainda brincava de boneca com as irmãs. Mas, é claro, a libido já morava naquele corpinho, apesar de inexplorada ser.

Morava no interior do interior do Rio Pardo como dizia o seu avô. Numa casinha isolada no meio da lavoura onde a família plantava fumo, ela foi crescendo ali e vivendo aquela vidinha simples, colhendo jasmins pra fazer perfume e brincando de esconde-esconde nos galpões de secagem do tabaco.

Janinha, pra chegar à escola de segundo grau, caminhava pelo meio da plantação até pegar o ônibus que passava na estrada.

E assim neste ritmo chegou uma hora que a Janinha tinha se formado no ensino médio e os pais se perguntavam: - E agora?

A mãe sempre desejou que ela fizesse Agronomia, mas faculdade pública pra isso só na cidade grande. E a mãe batia pé pra realizar este sonho. Já o pai, reconhecendo a realidade, achava que a Janinha não tinha estrutura e nem maturidade pra viver sozinha em uma grande cidade. Imaginava ele mil perigos pra sua caipirinha, como ele a chamava docemente.

A esforçada estudante tirou altas notas no ENEM e se credenciou por méritos pra estudar em Porto Alegre. A Faculdade de Agronomia ficava quase na divisa da capital com Viamão e, para economizar transporte e facilitar a vida, era melhor morar perto do curso. Com o bolso apertado e com o coração na mão, conseguiram um apartamento lá no finzinho do Partenon, aonde ela dividiria a morada com uma estudante veterana do mesmo curso. Assim, com mil recomendações, num sábado, pois as aulas começavam na segunda, a guria fez as malas e embarcou na antiga Saveirinho do pai e tomaram a estrada. Lá chegando, apesar do pai não ter gostado nadinha das tatuagens da dona do apartamento, se conformara porque era o que tinha para aquele momento.

Isabela, a Isa, com um jeitão descolado, tranquilizou a Janinha sobre a nova vida que levaria e já avisara que naquela noite as duas iriam a um barzinho para que ela conhecesse um pouquinho da vida na capital. Afinal, ela precisava se enturmar com a galera, como disse a Isa.

Depois de muita insistência de uma e certa relutância de outra, foram as duas num bar do Olaria na Cidade Baixa pra descontrair. A música, o burburinho da noite e as luzes da cidade começaram a desfilar para os olhos curiosos da garota. E ela nem reparou, no principio, que no badalado lugar só havia mulheres. E pouco a pouco, meio que atônita e meio que assustada, percebia que elas formavam casais e ainda trocavam carinhos e até beijos na boca. Isa, de novo e entre risos, a tranquilizou dizendo que aquilo fazia parte da vida...

Janinha, apesar de ficar com um pé atrás com o ambiente, dali a uma meia hora começou a achar aquilo tudo meio que normal e logo estava bebendo, pela primeira vez e meio a contra gosto, uns golezinhos de vodca com as gurias. A caipirinha do pai, meio tanto inteira e meio tanto tonta, lá pelas 2 da madruga, já dançava inocentemente com a Isa. Meio soltinha e meio alegrinha pelo efeito do destilado, ela nem reparava que a Isa deslizava mansamente as mãos pelo seu corpinho. Mais adiante, às duas e meia da madruga, a Isa, provando ser uma boa tutora, ensinou sua presa a dançar coladinha. E aí no lento esfrega-esfrega das coxas, a virgenzinha do Rio Pardo sentiu uma estranha e involuntária vertigem e acabou por molhar a calcinha. Suas pernas bambearam, mas ela nada disse à amiga. No entanto, a experimentada Isa, tal qual uma caçadora, percebendo o tremor da gazela, arriscou alongados beijos em seu pescoço e a Janinha, tomada de tesão e um tanto submissa, deixou que a Isa beijasse.

Isa estava prestes a realizar seu sonho, só precisava que a sua menina ficasse mais tonta a ponto de não lhe oferecer resistência. E não se passou mais que meia horinha para a Janinha, entre risos e goles, ficasse do jeito que a Isa queria. E então a língua de Isa invadiu, sem pedir licença, a boca da Janinha. E a boca ofegante de Janinha recebeu a de Isa, enquanto a mão de Isa penetrava sob o cós de sua calcinha. Janinha apertou as pernas num último recurso, mas  quando os dedos de Isa chegaram aonde queriam, ela capitulou e se rendeu ao incontido prazer que aquilo causava.

Às sete horas da manhã, enquanto raiava o domingo, Janinha repousava sua cabeça nos peitos de Isa, nuas na mesma cama, dormindo como duas amantes depois de uma noite intensa de amor.

Naquele domingo quase não saíram da cama e naquela tarde Isa teve a certeza que nenhum homem no mundo teria a pureza de Janinha. No auge dos carinhos sobre o lençol, um vibrador com cheiro de jasmim, nas mãos habilidosas de Isa, penetrava e rompia o hímen angelical da menina. Definitivamente, Janinha era de Isa e Isa era de Janinha...

quarta-feira, 25 de abril de 2018

NÃO DESPERTE O DEMÔNIO...


O Bar do Seu Pila, na boêmia Cidade Baixa de Porto Alegre era um daqueles lugares que não tinha nenhuma estrela nos sites de avaliações, aliás, era até conhecido como um original muquifo, porém não havia um chope mais gelado do que lá.


E foi neste muquifo do Seu Pila que a historia da Antônia pintou na mesa e atraiu o silencio de todos.

Antônia era uma dessas mulheres que os vizinhos chamam de exemplar. Recatada, trinta anos, casada há onze anos, mãe de duas lindas meninas, mulher de um só homem, pois casara com o primeiro namorado. Vivia para a casa bordando panos de prato e fazendo bolos para agradar o marido, o qual  chegasse a hora que chegasse,  encontraria a Antônia sempre limpinha e arrumada. E, diga-se de passagem, conservada, aliás, conservadíssima, pois o Ademir, como um esposo devotado, respeitava a esposa na cama, isto é, não era de sacanagens como as que a gente faz na rua com as putas.

Quando ela tinha 16, Ademir vislumbrou pela primeira vez aquela singela mocinha nos bancos da sua igreja. Mesmo com aquele vestidinho comprido e aquele jeitinho simplório, o pastor, assim como que por premonição, sentiu que ali na pureza daquele corpinho poderia encontrar as graças do senhor. E realmente encontrou...

O marido, Ademir, 45 anos, era pastor de uma igreja evangélica e seguidor dos ensinamentos da Bíblia. É interessante, pra que se entenda melhor a historia, que o Ademir seguira certa vez, acidentalmente, um dos quesitos bíblicos que se refere aquele que diz “crescei e multiplicai-vos”. O pastor era pai de um rapaz adolescente, coisa que nem a Antônia e nem os fieis desconfiavam. Pior seria se soubessem que o rapaz era fruto de uma aventura com uma mulher de bordel, da época que o bom pastor tinha o hábito de frequentar espeluncas.

Chegou um tempo que a mãe do filho bastardo, apesar de ganhar uma boa mesada pra fazer boca de siri pra sociedade, achou que já era hora de exigir algo mais daquele pai desnaturado. Ora, se o Francisco era literalmente um filho da puta e que não sabia quem era o pai, poderia, pelo menos, gozar da fartura que o pai gozava.

Assim, depois de um complicado diálogo com a antiga amante, o pastor não viu outro caminho se não aquele de alojar o bastardo na sua própria casa. Caso contrário, a vadia botava a boca no trombone. Então o Francisco, já com 17 anos, se integra na família do Ademir. Mas é bom que se diga que não como filho e sim como um sobrinho do interior de uns parentes que estavam passando necessidades. Antônia, inocente e de boa fé, engoliu inteiramente a historia e consentiu com aquilo, pois ficou apiedada com a situação do rapaz. E reconheçamos aí que os pastores são muito bons de conversa.

Só que esta parte do plano tinha sido por enquanto apenas alinhavada. Os acabamentos da obra estavam por vir...

No principio, meio tímido, Francisco foi se ajeitando ao novo lar e, na natureza de um rapaz, foi começando a reparar no insinuante corpo da tia, assim como ele chamava a Antônia. E a tia, mesmo não querendo, foi percebendo o interesse do menino. Francisco sempre andava a vontade em casa, de calção e sem camisa, e Antônia, por menos que quisesse, passou a reparar também no corpo do rapaz. As filhas iam pra escola, o pastor peregrinava pela cidade e Francisco que só estudava no período noturno, fazia companhia pra Antônia. Viam TV, jogavam cartas e falavam sobre a vida.

O pastor não contava com os efeitos colaterais do seu remédio, pois é de domínio popular que aquele cônjuge que trouxer um terceiro para dentro de casa, estará cometendo um grande erro. Ademir deu uma só chance para o azar e o tempo estava prestes a promover uma lambança no sua rotina.

Cabe ainda um intervalo na historia pra dizer o que já dizia, maliciosamente, certo filosofo: “Dorme um demônio no meio das pernas de uma mulher recatada que, se desperto, pode transformá-la na mais devassa das mulheres”.

E quis a vida que este demônio acordasse faminto no dia em que Francisco, nessas alturas já mais íntimo da tia, confidenciou pra ela que jamais tivera experiência na cama com uma mulher. Correu nas entranhas de Antônia uma vertigem tão grande que lhe fez vibrar todo o corpo, como se sentisse ali uma ameaça de orgasmo. Antônia, depois disso, passou a demorar mais no banho e no banheiro, pois só em imaginar que poderia desfrutar da virgindade de um homem, enlouquecia de tesão. A bela mulher do pastor estava subindo pelas paredes...

E numa tarde em que a brisa batia nostálgica nas cortinas, Antônia se refestelava finalmente com Francisco nos algodões da cama proibida. Com uma sede que jamais sentira, ela ensinou ao rapaz até o que não sabia e fez até o que ainda não tinha feito. Exauriram-se de tanto sexo, acabaram-se de tantas sacanagens...

Apaixonaram-se perdidamente e em todas as tardes amaram-se durante meses. Até que um dia o pastor, em veneração ao décimo mandamento que ressalta a cobiça à mulher do próximo, desrespeitou inteiramente o sexto destes mandamentos que aludia a “não matarás”...

E então, numa tarde chuvosa de inverno, Antônia e Francisco jaziam inertes sobre os lençóis no quarto. Restava ao pastor, sentado incrédulo ao pé da cama, com a arma no colo, chorar o sangue derramado.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

AS BRUXAS EXISTIRAM!

Na infância, uma escola no bairro em que a gente morava, terá sempre um lugarzinho privilegiado nas minhas lembranças. Lá pelo idos de 60 e poucos, quando eu tinha uns 12 anos pra mais, me lembro, muito bem, da primeira vez que senti algo muito estranho se passando na minha vida.

Eu era um merdinha, como eram todos os guris daquela nostálgica época, pois ainda acreditávamos, por tantas histórias ouvidas, nas bruxas. Vai dizer o leitor que isso é uma grande besteira, mas entenda que naquele tempo nem os adultos sabiam do mundo, pois nenhuma informação nos chegava, a TV não era acessível para os mais simples e, nas casas, até os telefones eram raros. Então só restava ouvir histórias, a maioria arrepiante, narradas pelos mais velhos. Então era de se supor que a gurizada era toda palerma e pensar em mulher, assim neste jeito que hoje se gosta, era algo que nem sequer estava nos planos, se é que estes existiam, coisa que acho muito difícil.

A Dona Luiza era uma professorinha do primário que ensinava Desenho. Novinha, vinte e poucos anos e casada, quando as outras docentes eram velhas e acabadas, teve ela, sem querer e logo que veio pra escola, o privilégio de despertar a curiosidade, talvez o desejo, naqueles pamonhas. Para alguns nem tanto, mas para mim foi em exagero.

Desde que ela começou a lecionar, eu, que sempre sentava nos fundos da sala, passei a ocupar as primeiras cadeiras, atitude esta que até rendeu um inesperado elogio da diretora pra mim. Lá ficava, feito um abobado, acompanhando todo e qualquer movimento da Dona Luiza, principalmente quando ela sentava, pois por baixo da mesa, não que fosse curto o vestido, dava pra ver, se o dia fosse de sorte, até a sua calcinha, o que era o ponto máximo daquele inenarrável prazer.

Surgia, nestas proibidas olhadas, intensas ereções nunca tidas. Era um risco incalculável, pois como se sabe, os alunos, muitas vezes, são chamados ao quadro negro. Ser pego daquela imoral maneira certamente seria um sacrilégio escolar, condenado talvez a ir pra sala da diretora e amargar a vergonha dos pecadores. Por esta e por outras que eu tentava me distrair, a escutando num momento e, no outro, me concentrando nas suas coxas. Assim, deste jeito infantil e supostamente esperto, eu reduzia cinquenta por cento de chances de ser apanhado. Mas, por outro lado, aprendia metade do que ela ensinava...

Mal acabava a aula da Dona Luiza era eu o primeiro a ir ao banheiro, onde lá me fechava e tratava de dar vazão ao que minha imaginação concebia. De lá não saía, mesmo que os outros guris derrubassem a porta se mijando nas calças. Mas não era só ali naquele pequeno banheiro da escola que a fertilidade da minha mente atuava. Não havia lugar, quando eu estava sozinho, em que a minha mão direita não fosse chamada a trabalhar, sempre pensando em tirar a calcinha da Dona Luiza ou, pelo menos, olhar pela frestinha do meio das suas pernas.

À noite, quando a minha avó vinha com aquelas histórias horrendas de bruxas e bois-tatás, eu ficava pensando como que era aquilo que estava por baixo da calcinha da Dona Luiza. Naquela fase da minha vida, o bicho mulher se incorporou no meu contexto de vida  meio que misturado à existência das bruxas. Sabe-se lá se a Dona Luiza não seria uma delas me enfeitiçando pra me trancar num quarto escuro da sua casa.

Porque de uma coisa eu andava bem desconfiado. Nas últimas vezes em que a Dona Luiza sentava à minha frente, parecia, ou seria minha mente doentia, que ela estava facilitando as coisas pra mim. Suas pernas, quando a turma se distraía e eu me lá me concentrava, se abriam generosamente e, muitas vezes, sua mão, meio que sem propósito, puxava o vestido pra cima e até, não tenho certeza, que ela sorria de um jeito debochado quando eu pedia pra ir urgente ao banheiro lá fora.

Sempre soube que as bruxas tentavam as pessoas. Talvez fizessem as mulheres a mesma coisa.

Por este motivo, estremeci dos pés a cabeça quando, numa sexta-feira, a Dona Luiza disse aos meus pais que eu estava atrasado e carecia de umas aulas de reforço na sua matéria. E, disse mais, que estas aulas seriam dadas na sua casa que ficava pertinho da escola. Peguei a minha pasta e fui, com o coração na boca e me borrando de medo, rumando pra casa da Dona Luiza. Ela ao meu lado com o braço sobre o meu ombro, sabe-se lá, pra evitar que eu escapasse.

Mandou ela que eu botasse o caderno, o lápis e a régua sobre a mesa da sala. Dona Luiza queria me adiantar nos triângulos e sentou-se juntinho de mim, assim encostando sua perna na minha. E me fez desenhar o isósceles, o equilátero e o escaleno, mas eles teimavam em passar da linha, pois  o meu lápis não se entendia com a régua. Com paciência, me mostrava as diferenças das regiões côncavas e convexas dos ângulos sem que eu conseguisse desviar  os olhos da brecha do seu decote, do dorso das suas tetas.

Assim como fui, voltei. Infelizmente são e salvo, sem que a Dona Luiza me escaldasse no seu caldeirão, sem que a Dona Luiza me lambesse provando se eu estivesse no ponto.


No fim do ano letivo se despediu ela da turma. Iria se transferir pra outra cidade. Depois de ela ir embora, nenhum desenho mais eu criei no ano seguinte, pois imaginar o quê com aquele bando de professoras corocas que sobraram na escola?

sexta-feira, 6 de abril de 2012

EM NOME DE EROS...

Aninha recém tinha feito os dezoito anos. Assim, de corpo, parecia, porém se vissem os jeitos graciosos de menina sapeca correndo pelo meio dos parreirais, ninguém daria esta idade. Ela era, decididamente, uma grande criança num corpo surpreendentemente exuberante, mas ela não estava nem aí para esta virtude e desconhecia até mesmo os maliciosos olhares que despertava.
Como toda mulher ariana, Aninha tinha, na íris de seus olhos, uma menina que, persistente, de lá não saiu quando cresceu. Por isso, no dia a dia, a parte mulher de Aninha era facilmente dominada por esta criança que estava lá dentro. Desconhecia a maldade, talvez por morar no interior do interior de uma pequena cidade serrana, lá no meio dos parreirais, sentindo o cheiro de uvas e vinho. Aninha, meio que atrasadinha, estava ainda por concluir o segundo grau, mas na escola já tinha sido rainha quando houve um concurso e, por isso e pela simpatia irradiante, era muitíssimo admirada. E porque não dizer, cobiçada...
Intervalo para reflexão:
Este pecado, a cobiça, é algo bastante inconsequente e deve ser analisado de uma maneira bem critica, pois num dos fragmentos da Bíblia consta que a vítima nunca é tão vítima e sim, muitas vezes, é ela quem desperta a monstro que existe nas pessoas normais, ou seja, não há inocentes na historia. Da cobiça nasce o desejo, do desejo à lascívia e desta, as reações inimagináveis do ser humano.

Então, assim por esse ângulo, seria bastante oportuno que a Aninha tivesse mais modos, que não sentasse, daquele jeito estropiado, mostrando as pernas roliças no banco da escola. Seria apropriado, para que a balzaquiana professora de história não ficasse tão tensa, que a Aninha não ficasse assim, mostrando a calcinha, na classe da frente. E aí, neste último detalhe, é que se entrelaçavam o urdume e a trama...

A Professora Amália, a tal que lhe ensinava as lições de história, estava, há um bom tempo, completamente sem norte devido à paixão desnorteada pela Aninha. E pensando nela de dia e de noite, Amália fantasiava o momento de gozar de tudo que a inocente Aninha poderia lhe dar. Aquela obsessão foi, pouquinho a pouquinho, tomando seu corpo e sua alma, sem que ela pudesse controlar o desejo. E Aninha, a cada aula, só fazia com que aquilo aumentasse e, sem saber da cobiça, ia graciosamente ao quadro negro apagar a lição. E a mestre, molhada e sentada, ficava assistindo o balançar das cadeiras da moça.

O grande problema da obsessão é tornar real aquilo que fantasiamos. Quanto mais distante estivermos de realizar o nosso desejo, mais doentes podemos ficar. Pior é ainda para a obsessão quando algo nos priva da posse do objeto querido. E, pelo menos parece, havia indícios de que isso pudesse estar ocorrendo, pois a nobre docente, acidentalmente, ao pegar o livro da arteira discente, lá achou, entre as folhas da história grega, uma, digamos imoral, camisinha com sabor de morango. Este símbolo do prazer e do pecado lá estava justamente posto nas páginas de Sodoma e Gomorra. E a vontade imediata de Amália, tal qual na história, foi fazer chover fogo e enxofre sobre a imoralidade existente no mundo.

Essa descoberta caiu como uma verdadeira bomba na cabeça desgovernada da professora. Não dormiu ela à noite, não conseguiu trabalhar bem ao dia e, nesse ritmo louco, por vários dias ruminou a desgraçada dor pela, agora não mais imaculada, Aninha. Imaginar que algum homem estivesse desfrutando do corpo daquela meiga tolinha, encheu de ódio o coração da Amália. Não o ódio contra Aninha, mas contra o infame sujeito que a seduziu e, sabe-se lá, quantas indecentes coisas fez com a menina. – E se houvessem ainda outros, Deus meu? Pensou Amália, aflita ao imaginar que houvesse muitos a se aproveitar de Aninha.

Aquela noite foi uma cruel parceira pra Amália, mas foi assim, aos buracos e solavancos, que concluiu que se Aninha não fosse só dela, de mais ninguém seria. E, sem planos e nem critérios, arquitetou a morte da moça. Não interessavam vestígios que ficassem sobre a autoria, pois a ela também reservava a mesma sorte. Mataria sem dó nem piedade a amante impossível e acabaria com a própria vida em nome de Eros.

Amália, então, leva Aninha pra sua casa com o falso intuito de reforçar os ensinamentos de história. A doce gazela, exultante de alegria por receber aquela benesse, vai, sem saber, para o fatal sacrifício.

Na intimidade da casa, Amália, entre conversas animadas e mal dadas lições, embebeda Aninha de vinho e a leva para o quarto. Lá, com o pretexto de uma brincadeira qualquer,  amarra Aninha pelos pulsos e pernas e tira as suas vestes, deixando a menina a sua mercê.

 Mas, antes do crime a punhal, com a curiosidade peculiar das mulheres, Amália quis saber da camisinha que estava no livro e que isto também lhe levasse ao nome do amante de Aninha. Aninha, inocente que estava naquele contexto, diz, sem malicia, que tinha achado a coisa na rua e que nem sequer sabia para que uso servia. Amália, surpresa com o argumento e sentindo na resposta toda a sinceridade humana, chora amargurada ao lado da cama. Aninha, sem compreender o que se passava, chora também como se fosse uma criança assustada.

Diante das lágrimas da virgem, Amália deita na cama pra lhe consolar. Sentindo que Aninha não opôs reação, Amália se atreve a lhe acariciar levemente e Aninha também a isso consente. A mestre, percebendo que aquilo agrada à menina, intensifica os carinhos e suas mãos resvalam sobre o corpo desnudo de Aninha. Amália, cada vez mais sem controle, beija Aninha no rosto, no pescoço, na boca, nos seios, enfim, percorre avidamente as tenras carnes de Aninha. E ela, sem conter os feromônios, tudo deixa sem reclamar no principio e depois, sem defesas, retribui com prazer.

Passados três anos do fato, Aninha hoje vive e divide os afazeres da cama, da mesa e do lar com Amália, como marido e mulher assumidos. E serão felizes para sempre até que a morte por uma branca lâmina as separe... 










sexta-feira, 30 de março de 2012

OS CHIFRES INESPERADOS DO DILERMANDO

Catarina, 26 anos, era uma mulher que batalhava que nem doida pra ajudar nas despesas de casa. Casara bem nova aos dezoito e, óbvio, há oito anos dividia as gavetas com o Dilermando, sujeito não muito confiável aos olhos dos outros, porém não aos de Catarina que só tinha os verdes olhos pra ele, o lar e o trabalho.
Catarina, como a maioria das mulheres casadas há algum tempo, era meio desleixada em sua aparência, desprezando maquiagens e outros artifícios que lhe dariam um upgrade. No entanto, qualquer homem com um bom olho clínico, que a visse mesmo desse jeitinho atirado, saberia que ali, com certo traquejo, estava um mulherão de fechar o comércio. Mas essas coisas, o Dila, apelido caseiro do maridão, não reparava. Tanto que até para as obrigações conjugais, dedicava ele não mais do que quinze minutos em uma semana. E cá para nós, era uma trepada meio que burocrática ao estilo papai e mamãe e sem variações. Mas, mesmo assim com essa comidinha doméstica, a Catarina sentia excitação no exercício, talvez até por não conhecer o mercado exterior. Qualquer um que soubesse desse segredo de alcova, diria que a Catarina era uma lamborghini que ainda não tinha sido acelerada em sua potencia total.  
Uma coisa evidente, com alguns anos de casamento, é que, com o tempo, o homem não enxerga mais que sua mulher ainda é gostosa. Talvez porque tenha a fêmea ao dispor a qualquer hora, assim como dizem, a prata da casa, o homem acaba não lhe dando o devido valor, ainda mais no caso do Dila que não podia ver, na rua, um rabo de saia, que logo imaginava o rabo sem saia. Em verdade, o Dilermando era um sujeito galinha ao extremo, coisa que a Catarina, com o seu belo rabo sempre encoberto, desconhecia.
Catarina, além de romântica e dona de casa, era uma excelente manicure, daquelas que não sangrava cutículas, e trabalhava num salão de beleza na Vicente da Fontoura, no velho e bucólico Bairro Santana, atendendo os clientes ali e a domicilio. E foi num sábado desses, de movimento intenso de gente cuidando da cara e do corpo lá no salãozinho, que Catarina soube, com o pé do ouvido na conversa de duas clientes, enquanto cuidava das unhas de outra, os detalhes sórdidos das galinhagens do esposo.
A doce Catarina tudo ouviu quietinha, aguentando no tranco o desgosto da cruel decepção. Mal terminou de pintar as unhas da sua freguesa, tomou o caminho de casa, alegando à patroa um enjoo qualquer. A coitadinha foi chorando pra casa e, entre as lágrimas, imaginando o que fazer diante do fato. Uma coisa era certa, pra separar ela não tinha a mínima coragem, tamanha era a dependência que tinha do cara.
À tarde, naquele mesmo dia, já consumido todo o choro que tinha, Catarina deu uma arrumada na casa como se tudo estivesse normal. Depois de tudo limpinho, atirou-se sobre o sofá para colocar os pensamentos em ordem. Pra começar, deu em si mesma uma analisada geral. Olhou o seu jeans, a sua camiseta, o seu tênis e achou assim, de repente, que tudo estava meio que com validade vencida. Levantou-se, olhou-se no espelho, deu meia volta, deu volta e meia e, decididamente, não gostou do que viu. Resolve tirar tudo ali mesmo e, nua, dá outra olhada geral, de frente, de lado, de bunda, e conclui, com toda a razão, que tinha um corpaço. E, ainda pelada, tendo o espelho por testemunha, sentencia que era uma idiotice completa dar exclusividade da posse de todo aquele volume a um só homem, ainda mais para um imbecil que não merecia.
O Dilermando chegaria mais no iniciozinho da noite, pois nos sábados sempre tinha futebol com a turma, argumento esse e outros que, a partir de agora, pouco interessariam à Catarina.
Ali mesmo na sala, arruma os cabelos e se maquia de um jeito bem provocante. Catarina retoma a mesma roupinha, pega a sua bolsa de marca nenhuma e vai para shopping. Lá, num banho de loja, compra sainhas curtinhas, calças apertadinhas e blusinhas que deixam seus seios arfantes. E para os pés, aposenta o tênis e escolhe saltinhos altos que lhe levantam as coxas E o resto pra cima. Olha-se no espelho, com a nova embalagem, sentindo tesão por si mesma e observa que até a vendedora que lhe atendia fica babando por ela.
Catarina caminha, ou melhor, desfila, pelo corredor do shopping, jogando, numa provocação geral, seu belo quadril pra lá e pra cá, embasbacando os passantes. Os hormônios daquela dona de casa, gostosa e traída, começaram a transbordar pelo corpo. Ela estava afim, definitivamente, assim de repente, a ir pra cama com o primeiro tarado que lhe abordasse...
E uma coisa é bem certa, a qual até muitas vezes não percebem os homens. Quando uma mulher, passa assim deste jeito na contramão, podem ter certeza senhores, ela está, como se fosse um animal na natureza, dando sinais corporais de que quer um macho satisfazendo os seus instintos mais básicos. É quando o cavalo, ou melhor, a égua, passa encilhada e a gente não monta...
E, naquela mesma tarde de sábado, Catarina foi possuída por um sujeito que nem sequer soube o nome. Convidada, aceitou de primeira e perguntada o quanto custava o programa, respondeu, surpresa e sem vacilar, que era trezentos. Negócio fechado, dali seguiram  para um discreto motel, ali  pertinho do shopping Praia de Belas.
Ao invés da mesmice curtinha da trepada caseira, Catarina experimentou duas horas e poucas de intenso prazer. Catarina soube atender com presteza, de tanta energia guardada, tudo o que o cliente queria. A primeira sempre é difícil, até pensou Catarina, mas tinha ela certeza que nas próximas escapadinhas, daria o máximo de si para recuperar o tempo perdido, ainda mais que agora este prazer tinha virado uma inesperada fonte de renda. Por isso, concluiu Catarina, que tinha tanta gente diversificando os negócios.  
Finalmente satisfeita, Catarina toma o caminho de casa pra esperar docemente o marido, pois, afinal, tinha prometido fazer um carreteiro, coisa que ela, como ninguém, se esmerava ao fazer. E, de fato, fez e o Dilermando adorou. À noitinha, o Dila alegando dor de cabeça, dormiu e roncou, só que, desta vez, com um belo par de chifres em sua cabeça.


  

segunda-feira, 26 de março de 2012

A JAPONESINHA DO ALCIDES

O Restaurante Copacabana, na Praça Garibaldi, no famoso reduto boêmio da Cidade Baixa de Porto Alegre, é algo assim tão antigo quanto maravilhoso. Ali, o gremista Lupicínio Rodrigues bebia, cantava e fazias as letras de suas nostálgicas canções. E foi ali que, entre cervejas geladas e pasteizinhos de carne, numa boa turma de amigos, saiu esta história do arco da velha...
 
Como bem sabe o povo brasileiro, uma boa parte de privilegiados servidores públicos, por este Brasil afora, se aposenta, antes do tempo previsto, através de sacanagens burocráticas. Um dos artifícios costumeiros é a boa a velha depressão, tão facilmente comprovada por charlatães credenciados. E assim, vivem eles gozando a vida e generosamente pagos pelo povo tupiniquim.

Alcides, solteirão, nem chegando aos cinquenta, era um desses afortunados depressivos que adorava a dolce vita. Bons uísques, gosto refinado, turista constante de primeira classe, Alcides morava num belo apto na Carlos Gomes e, para assar um salmão e receber os amigos, tinha uma confortável casa na praia de Atlântida.  “A felicidade mora aqui”, “só alegria”, afirmava Alcides, sem remorso nem pena do contribuinte, expressando o sorriso zombeteiro das raposas.

É claro, que nestas alturas da história, querem saber os leitores, aonde entram as mulheres no enredo, não é mesmo?

Pois bem, fora o plural, poderíamos falar no singular, pois o Alcides tinha, há muito tempo, só uma, aliás, uma verdadeira boneca de tão linda e perfeita que era. Ela, pasmem, era literalmente dócil e se poderia dizer, ao exagero, escrava e submissa. Por essas virtudes, Alcides era perdidamente, desvairadamente, apaixonado por ela. Pra completar e encher de desejo quem acompanha a história até aqui, ela só havia pertencido a um único homem na sua vida, o sortudo do Alcides. Linda, dócil, submissa e fiel, por um milagre, a mulher ideal.

Yoko, essa linda companheira do Alcides, conhecera o próprio em uma das viagens do amado ao Japão. Lá, tanto estreitaram o relacionamento que Alcides a trouxe para dividir a vida com ele no terceiro mundo. Então, noite ou dia, em farfalhantes cetins deitava mansamente aquela japonesinha. Nada, mais nada mesmo, traria tanto prazer a um homem...

Porém, como nos mostra a experiência, a felicidade nunca é oferecida com garantia total vitalícia. E assim foi com o Alcides, para alegria geral daqueles que trabalham honestamente e não tem acesso a depressão paraguaia.

Coincidiu que o Walmor, um tio interiorano do Alcides, já com idade bastante avançada, beirando os oitenta, precisou se hospedar no apartamento do nosso herói, por conta de uns exames médicos que faria em Porto Alegre. Alcides, ainda que contrariado pela invasão de sua privacidade, não teve como negar, pois partira o pedido de sua mãe a quem ele era todo abnegado.

Alcides, de muitas atividades sociais, pouco parava em casa, a não ser, evidentemente, à noite, pois nestas horas o “bon vivant” tinha compromissos sagrados com a meiga japonesinha. O Seu Walmor, então, foi acomodado no quarto da empregada com a intenção de que não interferisse na área intima do apartamento do Alcides. Assim, com esta precaução, foram reduzidas as possibilidades de que o velho bisbilhotasse nos cômodos da casa na ausência do proprietário.

Mas, sabemos todos, que pessoas velhas são iguais às crianças. Bisbilhoteiros, mexem em tudo quando se veem sozinhos na casa dos outros. Abrem gavetas, peidam, cheiram roupas íntimas, experimentam cremes, cospem na pia, enfim, essas coisas que todos faremos algum dia na vida. Só não se esperava que fizesse o que fez e que tivesse acontecido uma lamentável tragédia.

O Alcides tinha avisado que retornaria pra casa quando chegasse à noitinha. No entanto, voltou ele no meio da tarde e deparou-se com a mais cruel das visões, com o mais doloroso de todos os pecados: a traição.
Na cama matrimonial, num flagrante adultério, o Seu Walmor, com aquele esquálido corpo branquelo e sem roupas, de bunda pra cima, estava entre as pernas nuas de Yoko. A submissa bonequinha de luxo ficou ali, abobada, sem compreender os gritos alucinantes do Alcides. Descontrolado, arrancou violentamente o corpo do velho da cama e esbugalhou os olhos ao perceber que este estava inerte e sem vida. Meu Deus, o Seu Walmor tinha morrido!

O Alcides, transtornado e enlouquecido, agride Yoko de todas as formas físicas possíveis, praticamente dilacerando o corpo da japonesa. Aos berros e chorando desesperadamente sai ele no corredor do edifício pedindo socorro e afirmando ter matado a Yoko. Os vizinhos, alertados pelo escândalo, irrompem no apartamento e assistem a uma cena insólita.

 Um velho morto sobre o tapete e na cama, rasgada e dilacerada, uma boneca inflável de fabricação asiática, a qual o Alcides chamava de Yoko.

O pior, para o remorso do Alcides, ainda veio a galope. Os peritos disseram que não houvera penetração e isso significava que Yoko não fizera, tecnicamente, sexo com o velho. Portanto, não houvera traição. O Seu Walmor tinha morrido ao exaurir o ar dos pulmões no momento em que havia acabado de inflar a boneca.


O Alcides, atualmente, gasta o seu dinheiro numa clinica de recuperação mental. Finalmente, quis o destino, sofre de grave e legítima depressão.