Se há uma fonte inesgotável de histórias será aquela em que se contam as passagens das nossas infâncias. A que vocês vão ler agora foi contada pelo Sergio, um velho guerreiro, numa mesa do Bom Ami, o saudoso bar dos altos da Salgado Filho em Porto Alegre. Acompanhe, pelas suas próprias palavras:
A gente já sabia quais eram os sinais que indicavam que a Dicélia estava indo para o mato, tal o alvoroço que a gurizada fazia. Na década de 60, na rua de chão batido na periferia de Porto Alegre, onde a “civilização” não tinha chegado ainda, lá nos altos do Cristal, éramos um monte de pirralhos em crescimento, principalmente se estivéssemos junto daquela moreninha safada, irmã do Donaldo.
A Dicélia tinha, não tenho certeza, mais do que quinze anos, mas para nós é como se ela tivesse 20 e poucos de tanta sacanagem que sabia. Apesar de ter esta idade e ser mais crescida que o resto, estava ela na mesma aula da turma menor. Até nem sei se ela era meio lerda da cabeça, mas assim para a nossa idade nada aparentava e também pouco importava o detalhe. O importante é que ela fazia a alegria da turma, numa fase em que guris como eu andavam embaixo dos porões batendo umas. E diziam os guris que até o irmãozinho menor, o Donaldo, entrava no rolo.
Eu tinha uns treze anos, e como todo guri naquela época, era um perfeito songamonga. Quando via a gurizada, sempre uns três ou quatro, tomarem o rumo do mato de cambuins com a mulatinha Dicélia, sentia um aperto no peito imaginando quando eu teria coragem de fazer o mesmo trajeto e seguir a cadelinha corrida pela ruazinha de areia.
Um dia, jogando bolitas na frente de casa, e sendo eu o dono de considerável quantidade das mesmas, me surpreendi com o “brique” que o Donaldo me oferecia. Em troca de participar das brincadeirinhas com a irmã eu entregaria minha coleção de bolitas, inclusive os “bochões”. Imediatamente, em silêncio e com os olhos esbugalhados, e sem saber de onde vinha tanta coragem, entreguei o saco com as preciosas. Mas desde aquele exato momento parecia que alguém batia no meu coração, pelo lado de dentro, como se fosse um tambor. Até ar me faltava, mas de nada adiantava, pois meu destino já estava traçado e voltar atrás seria uma imensa vergonha.
Havia muitas coisas em jogo e eu sequer sabia o que consistia a tal brincadeira com a mulatinha fogosa. E eu que sempre tive uma enorme curiosidade de saber o que a Dicélia fazia com aquela turma no mato. E agora era tarde pra perguntar, pois iam dizer que eu estava me cagando de medo. O pior de tudo era a vergonha de não saber nada sobre mulher, de não ter visto nem em revista, pois na época nem tinha, uma guria pelada. Meu Deus, a ansiedade de não saber por onde começar, o que fazer, onde meter minhas mãos e sabe-se lá o que mais que existia quando um cara ficava com uma mulher. E se ela me beijasse na boca e visse que nem isto eu sabia? Jesus, o que a Dicélia ia fazer comigo?
A vontade que eu tinha era mandar com que o Donaldo ficasse com o saco das bolitas sem me oferecer nada em troca, mas isto, infelizmente, não ia ganhar o seu silencio.
Na minha casa, com dois irmãos já adultos e sempre em volta com a mulherada, muitas vezes, por trás das portas, eu ouvia coisas meio escabrosas, tipo “mulher gosta de beijo de língua”. Lá iria eu ter ideia de como a língua iria beijar uma mulher? Ou “botei de quatro, ela arregaçou e eu mandei ver”… Eu ficava pensando: mandei ver o que? Será que havia alguém vendo? Não sei se ouvir complicava mais ainda a minha cabeça, mas a verdade é que a curiosidade era tanta que ficar a espreita de informações talvez fosse um bom negócio naquela fase da vida.
Mas, longe das teorias, chegou um fim de tarde na vila que a Dicélia apareceu de repente, andando de bicicleta, sem mais nem menos sozinha, na frente da minha casa. Para mim que estava, na hora errada, debruçado no portão de madeira, indeciso entre entrar correndo pra casa ou ficar prostrado ali mesmo, foram segundos de grande tensão. Principalmente quando ela me mandou subir na garupa, sem tempo pra dizer não, pra dar uma voltinha. Vermelho e mudo, como se fosse um tomate, embarquei consciente que aquele era o meu dia e já, ao me agarrar na cintura da Dicélia, no balanço da bicicleta, senti arrepios nunca antes sentidos ao contato com as carnes da mulatinha.
Na trilhazinha a caminho dos cambuins, Dicélia descansou a bicicleta e me pegou pela mão para nos embrenharmos um pouco mais no mato, certamente num ponto em que pudesse me pegar sem sobressaltos, lá onde só se ouvia o gorjeio de passarinhos. No meio das macegas, ela mostrou devagarinho, com todo o cuidado, as suas melhores habilidades, pois, malandra, sabia que não poderia assustar a sua presa tão nova e inexperiente.
Fez então que eu passasse as mãos em seus seios e provasse com a boca do seu sabor. Ensinou-me um monte de jeitos de beijar uma mulher, inclusive com a língua. E num momento mais do que esperado, sem calcinha e com as pernas abertas no chão, disse-me “vem, olha e mexe na minha pombinha”. Olhei tão de perto que o cheiro do seu sexo penetrou nas minhas narinas como um indescritível prazer. E me acariciando, me tocando, mandando que eu ficasse quietinho, ela foi me envolvendo. E percebendo a hora adequada, me deitou em meio as suas coxas e, jeitosamente, facilitou a penetração. E eu, naquele súbito toque úmido e quente, acelerei, como um coelho, os meus movimentos, mas ela soube conter a minha pressa, apertando com as mãos o meu corpo. E assim, com a paciência de uma professorinha, demonstrando saborear com prazer o petisco, foi me ensinando, naquele tempo exíguo e escondido, o que sabia.
Aquela foi uma das melhores noites de sono da minha vida, talvez igual a que dormem todos aqueles que romperam o tabu do medo da virgindade e dos mistérios do sexo.
No outro dia, quando entardecia, lá estava eu, como um veterano, correndo entusiasmado com a turma. Na frente, saltitante, ia a Dicélia nos levando pros cambuins e rumo ao prazer e a felicidade precoce.
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