Lá pela década de 70, entregar declaração de Imposto de Renda pela Internet era coisa inimaginável para o povo brasileiro. Então o negócio era fazer a mão e enfrentar enormes filas para entregar a bendita ao banco de preferência. O Bradesco, à época, então bolou uma jogada de marketing para facilitar e atrair estas declarações. Apareceram ao país as famosas Moças do Bradesco, simpáticas, lindas e joviais, as quais com suas saias vermelhas e camisetas brancas faziam o pré-atendimento na entrada das agências. O slogan “’é só falar com a moça” caiu no gosto da brasileirada e logo e as moças passaram a ser chamadas carinhosamente de mocinhas.
E uma destas mocinhas, uma linda lourinha com carinha de inocente, é o pivô desta história contada justamente pelo outro protagonista da mesma, o Seu Dutra.
O Seu Dutra, a saber, era um viúvo de perto de 60 anos, bem remunerado e aposentado da Viação Férrea. Ele, como principal característica, era um inveterado apreciador de mocinhas e por elas fazia qualquer sacrifício, até se apaixonar se necessário fosse. Dizia aos amigos, para justificar a condição, que por muitos anos aturou sua megera parceira e que, agora livre, queria mais era beber da fonte da juventude, somente encontrada, segundo ele, mais precisamente na companhia de doces Lolitas. Sua filosofia contrariava a do carcará e, ao invés do “pega, mata e come”, Seu Dutra gostava de primeiro assar em fogo lento e depois, sim, saborear o galeto.
Por coincidência, Seu Dutra era cliente do Bradesco e foi um dos primeiros a aprovar a estratégia do banco. E lá, na agência da Rua Vigário José Inácio em Porto Alegre, foi o Seu Dutra, certa vez, fazer um depósito e pagar umas contas. Quis o destino que o nosso herói fosse abordado pela tal lourinha com carinha de inocência. Aquele sorriso de covinhas enfeitado por verdes olhos deixou o Seu Dutra completamente arrebatado, hipnotizado, petrificado e muitos outros “ados”.
Desde aquele singelo momento não havia mais dia em que não houvesse uma visita ao banco daquele cliente fiel. Obstinado, Seu Dutra, mesmo enfrentando grandes dificuldades devido à timidez da menina, tentava burlar os sinais que estavam fechados e levou quase um mês para, pelo menos, pagar-lhe um lanchinho no bar da esquina, o que foi um avanço considerado. Mas, enfim, ganhou-lhe a confiança, assim como também, na repetição dos lanchinhos, passou a ser seu confidente e conselheiro, aliás, o que era muito oportuno para ingressar na intimidade daquela Lolita.
Não demorou muito tempo para que, sem terceiras intenções, o Seu Dutra começasse a lhe dar pequenos mimos e presentinhos, os quais deixavam a garota sempre na expectativa de ser surpreendida. Os presentinhos, paulatinamente calculados, começaram a aumentar de valor e assim a mocinha, em certo momento, já ganhava pulseirinhas de ouro e pingentes de anjinhos. E os lanchinhos passaram a virar jantares nos restaurantes da zona sul. As prestações dos crediários das lojas que ela fazia, Seu Dutra, um bom samaritano, pagava todinhas.
Passaram-se, neste, digamos investimento, quase seis meses de tempo. Seu Dutra estava embriagadamente apaixonado pela mocinha. Enquanto isto, ela, nas horas de folga, estava aprendendo a dirigir, pois o Seu Dutra não queria que ela pegasse mais ônibus e, junto com ela, já tinha ido até ver um Fiat 147 que era a novidade da época.
Foi, provavelmente, a expectativa de ser dona de um carro zerinho que fez aquela mocinha do banco abrir sua guarda para atender os anseios cada vez mais insistentes do generoso senhor. Assim, depois de uns comes e bebes à noite num bar da Assunção, lá perto do antigo cais das barcas, a menina, de propósito para criar coragem, bebeu além da conta e, tontinha, aceitou ir finalmente a um motel com o Seu Dutra. Com o dedinho no canto da boca, disse sim timidamente.
E então, para um delirante assistente, lá estava a gazela ao lado da caminha redonda, desfraldando sobre a cabeça a branca blusinha do banco como se essa fosse a bandeira da rendição. Quando o sutiã caiu no carpete, aqueles rígidos seios desnudos ficaram a mercê das garras do velho lobo. Daí para diante foi um tapa, pois o Seu Dutra, tomando as rédeas do páreo injusto, fez com que a menina, mesmo contra a sua vontade, ficasse nuazinha da silva.
Devagar, como diz a bula dos conquistadores venezianos, em não menos que meia hora, Seu Dutra já havia beijado a mocinha em quase todo o seu corpo, menos onde morava sua maior intimidade, pois para aquele sagrado lugar encantado reservava seu golpe de mestre. Queria que, chegando ali em “gran finale”, a menina, extenuada, espontaneamente se deixasse ser possuída.
Porém, como comprova a história, nem tudo tinha tido uma grande final na década de 70. Para constar, enquanto o Seu Dutra continua a beijá-la, o Elvis morrera e os Beatles se acabaram, isso sem contar que o Geisel e o Figueiredo governaram o Brasil. Mas o velho guerreiro não estava nem aí para a história e queria mais era que aquela conquista passasse a fazer parte das suas historinhas particulares.
E então, com a pequena caça praticamente agonizante, o lobo desliza a boca sobre o seu tanquinho com destino geométrico àquele triangulo. Tal qual num termômetro perto da brasa, a temperatura da moça sobe e chega a um limite simplesmente insuportável para a sua libido. E então, num flash de segundos acontece o inesperado e fora das previsões do Seu Dutra. A gazela se transforma numa serpente feroz e, abandonando as defesas, parte para um ataque mortal sobre a presa. A mocinha, com atitudes de uma vadia exorcizada, vira violentamente o corpo do sujeito de barriga pra cima e se lança sobre a vítima num bote fatal, cravando os seus dentes sem dó nem piedade no pescoço do pobre do Dutra. E ainda, para desespero do galante assustado, ela vocifera vulgares palavras só proferidas por mulheres de zona. E, como cartada final, ordena que ele a possua de forma selvagem até de manhã.
Ora, senhoras e senhores, não há homem na face da terra que não se apavore com esta expectativa. Para o nosso herói, então, nem se fala. Se antes se inesperava o fato, o que acontece com o Seu Dutra, diante da reação da mocinha, já era previsto. O cérebro não mais obedeceu a sua vontade e o sangue retirou-se da sua nervura. Não havia mais nada no mundo, naquele momento, que fizesse com que a flacidez do Seu Dutra se recompusesse. Sob os olhos do homem, aquilo que ele tanto precisava no ato, parecia desaparecer do meio de suas pernas. Simplesmente, um cruel pesadelo. Nervoso pela ausência do elemento essencial para um macho, Seu Dutra ainda se sacrificou mais uma hora em tentativas inúteis.
Antes da meia noite terminava o jogo sem direito à prorrogação, pois Seu Dutra, acabado e envergonhado, queria era mais sair de campo e evaporar deste mundo.
Disse-me pessoalmente o Seu Dutra que jamais pisara novamente no banco e até por lá encerrara suas contas. A mocinha, conforme informações da contraespionagem, até hoje se arrepende de ter se revelado antes da hora. Pagando tributo ao erro infantil de vigarista ocasional e, sem o carrinho zero quilometro, ela continuou a pegar o “buzão” pra ir da Azenha trabalhar no seu banco.
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